sábado, 5 de maio de 2018

Racionais MC's - Negro Drama



Negro drama
Entre o sucesso e a lama
Dinheiro, problemas
Inveja, luxo, fama
Negro drama
Cabelo crespo e a pele escura
A ferida, a chaga
À procura da cura
Negro drama
Tenta ver e não vê nada
A não ser uma estrela longe, meio ofuscada
Sente o drama,o  preço, a cobrança
No amor, no ódio,a insana vingança
Negro drama
Eu sei quem trama e quem tá comigo
O trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fodido
O drama da cadeia e favela
Túmulo, sangue, sirene, choros e vela
Passageiro do Brasil, São Paulo, agonia 
Que sobrevivem em meio às honras e covardias
Periferias, vielas e cortiços
Você deve tá pensando o que você tem a ver com isso
Desde o início, por ouro e prata
Olha quem morre, então, veja você quem mata
Recebe o mérito, a farda que pratica o mal
Me ver
Pobre, preso ou morto já é cultural
Histórias, registros, escritos
Não é conto nem fábula
Lenda ou mito
Não foi sempre dito que preto não tem vez?
Então, olha o castelo, irmão
Foi você quem fez, cuzão
Eu sou irmão dos meus trutas de batalha
Eu era a carne, agora sou a própria navalha
Tin, tin, um brinde pra mim
Sou exemplo de vitórias
Trajetos e glórias, glorias
O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar de dentro dele a favela
São poucos
Que entram em campo pra vencer
A alma guarda
O que a mente tenta esquecer
Olho pra trás, vejo a estrada que eu trilhei
Mó cota

Quem teve lado a lado
E quem só fico na bota


Entre as frases, fases e várias etapas
Do quem é quem
Dos mano e das mina fraca
Negro drama de estilo
Pra ser e se for
Tem que ser
Se temer é milho
Entre o gatilho e a tempestade
Sempre a provar
Que sou homem e não um covarde
Que Deus me guarde
Pois eu sei que ele não é neutro
Vigia os ricos, mas ama os que vêm do gueto
Eu visto preto por dentro e por fora
Guerreiro
Poeta entre o tempo e a memória, ora!
Nessa história, vejo o dólar
E vários quilates
Falo pro mano pra que não morra e também não mate
O tic-tac não espera, veja o ponteiro
Essa estrada é venenosa e cheia de morteiro
Pesadelo
É um elogio
Pra quem vive na guerra, a paz nunca existiu
Num clima quente, a minha gente sua frio
Vi um pretinho, seu caderno era um fuzil
Um fuzil
Negro drama
Daria um filme:
Uma negra e uma criança nos braços
Solitária na floresta de concreto e aço
Veja

Olha outra vez o rosto na multidão
A multidão é um monstro sem rosto e coração
Em São Paulo, terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne. é a Torre de Babel
Família brasileira, dois contra o mundo
Mãe solteira de um promissor vagabundo
Luz, câmera e ação: gravando!
A cena vai
Um bastardo
Mais um filho pardo, sem pai
Ei, Senhor de engenho
Eu sei bem quem você é
Sozinho, cê num guenta
Sozinho, cê num entra a pé
Cê disse que era bom e a favela te ouviu
Lá também tem
Whisky, Red Bull, tênis Nike e fuzil
Admito
Seus carro é bonito
É, eu não sei fazê
Internet, videocassete, os carro loco
Atrasado eu tô um pouco, sim
Tô, eu acho
Só que tem que
Seu jogo é sujo e eu não me encaixo
Eu sou problema de montão
De carnaval a carnaval
Eu vim da selva, sou leão
Sou demais pro seu quintal
Problema com escola, eu tenho mil, mil fitas
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês, ele é o mais esperto
Ginga e fala gíria
Gíria não, dialeto
Esse não é mais seu
Ó, subiu
Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu
Nós é isso ou aquilo
O quê?
Cê não dizia?
Seu filho quer ser preto?
Ahhh, que ironia!
Cola o pôster do 2Pac aí
Que tal? Que cê diz?
Sente o negro drama, vai
Tenta ser feliz
Ei bacana, quem te fez tão bom assim?
O que cê deu, o que cê faz,
O que cê fez por mim?
Eu recebi seu tic, quer dizer kit
De esgoto a céu aberto e parede madeirite
De vergonha eu não morri
To firmão, eis-me aqui
Você, não
Cê não passa quando o mar vermelho abrir
Eu sou o mano, homem duro
Do gueto, Brown
Obá
Aquele louco que não pode errar

Aquele que você odeia amar nesse instante
Pele parda,ouço funk
E de onde vem os diamantes?
Da lama!
Valeu mãe
 Negro drama!

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