sábado, 10 de junho de 2017

Educação vai além de boas notas

Segundo a direção do Anchieta, "jovens podem se equivocar".

Sou professor da Educação Básica e a frase-título deste post é algo que falo a meus alunos e alunas frequentemente. Educação é muito mais que tirar notas altas nas avaliações. Notas são apenas rabiscos de caneta em pedaços de papel, não definem caráter, personalidade, as complexidades da cada indivíduo e nem mesmo o aprendizado.Tanto o Colégio Anchieta, de Salvador, quanto a Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul me deram elementos suficientes para comprovar isso. Ambas são escolas "tradicionais" (leia-se brancas, de classe média/alta) e religiosas, a julgar pelos nomes, que afirmam "formar pessoas que vão mudar o mundo", mas provaram que sua única preocupação é a quantidade de pontos colecionados.

A instituição gaúcha realizou uma festa intitulada "Se nada der certo", em que os estudantes do 3º ano do Ensino Médio se "fantasiaram" de profissões consideradas "inferiores" às carreiras que eles desejavam seguir, como faxineiros, atendentes de fast food, mecânicos, porteiros etc.
Já a baiana, justamente na cidade mais Negra da América, com cerca de 80% da população, realizou o "Dia do Mico", evento em que os alunos poderiam escolher sua fantasia, e alguns deles tiveram a escolha infeliz de se vestir como a Ku Klux Klan, instituição racista estadunidense do século XIX que matou, torturou, estuprou e perseguiu um número incontável de Negrxs. Na foto acima, pode-se ver que há até uma saudação nazista. Em plena Salvador, Bahia, a "terra do branco mulato e do preto doutor".

Depois dessa, já deu tudo errado!


Não tenho o desprazer de conhecer nenhum deles, mas, a julgar pelo contexto que os cerca, pode-se depreender que seriam considerados "bem educados", por serem alfabetizados, tirarem boas notas e almejarem as primeiras vagas nas principais universidades do país e nos melhores postos de trabalho. Contudo, todos que participaram dessa patifaria mostraram que não estão prontos pra nada. Não conhecem o mundo real, para além dos seus muros e cercas elétricas. Não sabem o que é trabalho de verdade, pois sua renda vem de mesadas e, o que é pior, não veem nada de errado com a repercussão negativa, justamente por não enxergarem um palmo além do seu nariz.

Ambas as instituições de ensino têm a sua grande parcela de culpa. Como é que ninguém viu as "fantasias"? Como é que nenhum(a) professor(a), coordenador(a) ou diretor(a) acompanhou o processo nem verificou o tipo de material que seus estudantes levaram à escola? E se fosse uma arma, o que aconteceria? As escolas pecaram pela omissão, em nome da "imagem", e só se pronunciaram após a ampla repercussão dos fatos, caso contrário, permaneceriam em silêncio.
A família também está cada vez mais distante da vida dos estudantes. Muitos pais e mães "compram" o afeto dos filhos com celulares e tênis caros, e deixam que a TV e a internet os eduquem, se eximindo de sua obrigação.
"Fantasiado" de ambulante.


Educar vai além de treinar os estudantes para que façam boas provas no ENEM. As escolas devem se preocupar com a formação do indivíduo para a vida em sociedade, facilitar o desenvolvimento do senso crítico. É inaceitável que atitudes preconceituosas se perpetuem dentro do âmbito escolar, sem que haja uma intervenção rápida.

A naturalização do racismo e de todas as formas de preconceito, cada vez mais amparadas por projetos esdrúxulos, como o famigerado "escola sem partido", pela ausência da família na vida escolar e alimentada por "youtubers", apresentadores de TV, políticos e "intelectuais" vai comprometendo o senso de moral e de respeito às diferenças, criando pessoas que sabem encontrar o valor de X, sabem calcular a massa do Sol, mas são incapazes de compreender que elas não são superiores a ninguém.



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