terça-feira, 17 de novembro de 2015

Atentados a Paris: uma consequência histórica


A França SEMPRE foi um país genocida, assassino e imperialista, que devastou a África por séculos e reagiu violentamente ao processo de independência de suas colônias. É certo que não devemos endossar a violência extremista do Estado Islâmico, mas não se pode fechar os olhos para a História. Aliás, não só ao passado, mas ao presente, em que a França e seus aliados bombardeiam a Síria e deixam corpos de civis em uma quantidade muito maior do que as vítimas de Paris.

O fanatismo religioso de grupos radicais muçulmanos identificados como "terroristas" no Ocidente, junto com  o desespero de ver sua cidade, seu país ser constantemente invadido, saqueado e bombardeado, durante gerações, acabam abrindo caminho para que grupos como o ISIS (sigla em árabe para "Estado Islâmico") ganhem cada vez mais adeptos, num ato suicida de oferecer a seus agressores um pouco do terror que eles vivenciam e também promovem, já que, nesse jogo, ninguém é "santo". 

A Europa vive hoje a mesma sensação de insegurança que assola grande parte dos países africanos e asiáticos, continentes esquecidos pela mídia no que se refere aos direitos humanos. Não sei se é a proximidade geográfica, a seletividade dos meios de comunicação, que dão uma cobertura sensacionalista a alguns fatos, mas esquecem outros ao seu bel prazer, ou a falta de interesse histórico e humanitário do Ocidente a estas regiões do globo, que fazem com que nós brasileiros ignoremos por completo os ataques terroristas de franceses, estadunidenses, ingleses, russos e alemães a alvos civis da Síria, Afeganistão, Iraque, além de patrocínios ou "vistas grossas" a grupos paramilitares da Nigéria, Israel e Sudão, por exemplo.

Nenhuma dor vale mais que a outra. Os civis franceses que morreram ou se feriram nos ataques a Paris na sexta-feira, 13 de novembro de 2015, são tão vítimas quanto as do World Trade Center, nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, as do metrô em Madri em 11 de março de 2004 e a todas as pessoas que morreram, direta ou indiretamente, pelas mãos do colonialismo europeu nas lutas pela descolonização da África e da Ásia, entre o final do século XIX e todo o século XX. Contudo, não podemos esquecer que tudo isso que acontece hoje é o caminho de volta, a consequência histórica a toda a violência e intolerância perpetradas pelos senhores da guerra, que dividiram o planeta entre eles, como se tudo fosse seu.

No fim das contas, "Terrorismo" é apenas uma questão de ponto de vista, ou de quem tem argumentos mais convincentes. Para os sírios, afegãos, iraquianos, palestinos, nigerianos e sudaneses, os terroristas somos nós.


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